Por Carlos Alberto Nascimento de Andrade – Sociólogo.
Primeiro que tudo, informo que este é um tema que me é muito caro, por isso esclareço e me penitencio desde já, que infelizmente meu tempo não é suficiente para que eu possa fazer um aprofundamento argumentativo maior que exige a matéria em curso. Neste sentido, oportunamente produzirei um texto que possa contemplar, “sem preconceito”, a temática atual.
A postura que alguns bravos nordestinos têm manifestado contra a grande mídia brasileira, e porque não dizer da imprensa local, de impor um único clube de caráter nacional tem a sua razão de ser. Essa iniciativa não começou ontem, ela tem mais de 10 anos, quando um grupo de torcedores críticos de Maceió-AL resolveu criar um grupo numa rede social denominado de ANTI/MISTOS/NORDESTE.
Mesmo timidamente esse movimento tem crescido em nossa região. Não se trata de preconceito, mas de um combate cultural contra a hegemonia imposta pelo grande capital. A resistência de alguns nordestinos quanto ao “neocolonialismo no futebol” é uma tentativa de equilibrar a luta midiática desigual. Cultura não é algo natural, é uma construção social que, no caso do futebol, visa atingir objetivos mercantilistas.
A difusão do Flamengo e de outros “grandes” clubes brasileiros como clubes de caráter nacional não é espontânea, a imprensa comercial constrói diariamente nas mentes incautas a chamada “mística rubro-negra”. Com que objetivo? A produção cultural e jornalística é determinada pelo mercado.
A cultura de massa no universo capitalista depende da indústria e do comércio. Passa sempre pela mediação do produto vendável e por isso mesmo toma emprestadas certas características do produto vendável, como a camisa do Flamengo com o símbolo da ADIDAS, por exemplo. É por isso, que os 12 maiores clubes brasileiros, sobretudo o Flamengo têm na maioria dos dias espaço maior em qualquer veículo de comunicação, seja no rádio, no jornal, nos sites ou na televisão. O futebol é visto desta forma, não como um entretenimento espontâneo de participação popular, mas como mercadoria, e os torcedores são acima de tudo consumidores do capital. A mídia capitalista só mostra o que lhe convém E, o efeito disso é danoso para os clubes que não têm perfil mercantilista de caráter nacional.
Os campeonatos estaduais estão morrendo a míngua, e com eles seus clubes filiados, tudo isso por falta de público, que é uma consequência da falta de “propaganda” dos meios de comunicação mercantis. Uma coisa tem relação com a outra. O que vemos é o futebol brasileiro que já foi um celeiro de surgimento e formação de grandes jogadores, em times de norte a sul, limitado aos clubes de estados tidos como centrais, tais como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Resistir e combater esse neocolonialismo não tem nada a ver com preconceito ou bairrismo, mas tem tudo a ver com uma tentativa desesperada de “equilibrar a curvatura da vara”, ou construir uma contra hegemonia.