Pesquisa

Estudo avalia índice de pobreza rural infantil e expõe dois “Brasis”

Levantamento mensurou o nível de privação das crianças em idade de primeira infância do meio rural brasileiro

As desigualdades sociais do Brasil são latentes e afetam grande parte da população brasileira, sobretudo nas regiões mais longínquas do país. O estudo “Pobreza na primeira infância rural brasileira: uma análise multidimensional do fenômeno”, traçou um retrato da privação na primeira infância e o impacto no desenvolvimento das crianças que vivem distante das áreas urbanas. Os resultados indicaram a existência de dois “Brasis”. De um lado o estado do Amazonas, que registrou o pior resultado. No outro extremo, ficou Santa Catarina, estado com menor índice de pobreza multidimensional.

O estudo das economistas Ohanna Larissa Fraga Pereira, da Unicamp, e Caroline Lucion Puchale, da UFRGS, foi vencedor de uma das categorias da 7ª edição do Prêmio ABDE-BID, realizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o apoio da Organização das Cooperativas Brasileira. A premiação foi criada para estimular a produção de estudos a respeito do desenvolvimento sustentável brasileiro.

O estudo utilizou dados capturados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2013, totalizando uma amostra de 5.752 crianças de 0 a 6 anos de todos os estados brasileiros e Distrito Federal. A partir daí, as pesquisadoras construíram um índice de pobreza apoiado na teoria dos conjuntos fuzzy, ferramental utilizada na análise de fenômenos como o da pobreza.

A pesquisa utilizou quatro dimensões: Condições de Moradia, Condições Sanitárias, Segurança Alimentar e Padrão de Vida. Dentro dessas categorias, foram avaliados dez indicadores. Entre eles forma de abastecimento de água na residência, número de equipamentos do domicílio, condições alimentares, renda per capita do domicílio e densidade habitacional.

Ao avaliar os quesitos acima, o estudo atribuiu um índice de 0 a 1, no qual 0 representa alto grau de privação e 1 indica uma menor manifestação da pobreza entre as crianças representadas no levantamento. O índice foi definido para cada estado brasileiro e o Distrito Federal.

Desequilíbrio entre as regiões do país

O resultado do índice de pobreza infantil rural fuzzy variou entre 0,43 e 0,83 nos estados brasileiros, revelando uma discrepância na incidência de privação no país. As regiões Norte e Nordeste tiveram maior incidência de pobreza multidimensional infantil rural, enquanto as regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste apresentaram menores níveis de privação.

Além do Amazonas, que teve o pior índice (0,43), o estado do Maranhão também foi incluído no quesito alta/média pobreza, com índice ligeiramente superior (0,44). Três estados atingiram nível de média pobreza (Acre, Pará e Piauí); Dez estados do Norte e Nordeste apresentaram nível médio/baixo (Amapá, Roraima, Tocantins, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe); e outros 11 foram avaliados como baixa pobreza (Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul). Com índice 0,83, o estado de Santa Catarina foi o único do país com baixíssima pobreza.

Para as pesquisadoras, o resultado evidencia a necessidade urgente de ações para combater a pobreza nas regiões rurais do país. A privação de itens básicos de sobrevivência afeta diretamente no desenvolvimento das crianças na primeira infância, fase determinante para a capacidade cognitiva e sociabilidade dos pequenos.

“A idade das crianças analisadas representa um período de grande importância para o desenvolvimento infantil, o que torna imprescindível uma grande atenção da sociedade e das políticas públicas para a erradicação de qualquer forma de privação sofrida pelas crianças do Brasil, com um olhar mais cuidadoso para o contexto rural, que historicamente apresenta condições de vida mais carentes que o meio urbano no país”, afirmam as autoras no estudo.

Presente em todos os estados do país, a ABDE tem ajudado a transformar essa realidade nos rincões do país, através do financiamentos a municípios para projetos de infraestrutura em áreas como saneamento básico, energia renovável, iluminação pública, resíduos sólidos e mobilidade urbana.

“Somos, na ABDE 31 instituições espalhadas por todo o território nacional. Em municípios menores, que não têm recursos para a estruturação de projetos, atuamos como provedor de crédito e de conhecimento para financiamentos de infraestrutura. A pandemia da Covid 19 reduziu ainda mais a capacidade financeira dos municípios, mas as instituições financeiras de desenvolvimento têm aumentado significativamente seus recursos para ajudar a mudar essa realidade”, ressaltou o presidente da ABDE, Sergio Gusmão Suchodolski.

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